terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tudo tem explicação…


PS exige a Passos Coelho explicações sobre o BPN

Então foi assim: o BPN era "uma coisa por demais". Aquilo era dinheiro a rodos, eram financiamentos malucos, eram juros milionários. Tanto os juros eram elevados que "todo o mundo" e (também) o Estado meteram lá muito dinheiro a render.Só que um dia "a roda" (da fortuna…) começou a desandar – e aí apareceram todas as aflições… 
Preocupado com a sorte do banco (e, certamente também com o dinheirito do Estado que lá estava a render…) o governo da altura – parece que era do ps, capitaneado por sócrates – nacionalizou o banco, sem olhar a consequências.Aquilo, na altura já era um "buraco". Só que não tardou a revelar-se bem maior do que aquilo que então se assegurou ser ou que se julgava ser. E não tardou a vir ainda a revelar-se muito maior do que se podia imaginar, como se constata agora… Ou seja, um "poço sem fundo" ou um "buraco negro" que suga tudo o que estiver à sua volta 
Vai daí, ainda hoje andamos a pagar pesadamente as decisões malucas do governo ps… 


Mais explicações…???

domingo, 17 de fevereiro de 2013

D. Sebastião


Um conjunto de gente muito séria continua produzindo opinião nos órgãos de comunicação social com conversa barata ignorando ainda e sempre esse dado incontornável: não há, nem haverá tão cedo, dinheiro para a vida do passado. No momento em que o défice ultrapassou os 10% e a dívida pulou os 100% de toda a riqueza produzida ao longo de todo um ano em Portugal essa vida acabou. Mas já nem pergunto se é preciso um desenho, porque nem com desenho esta gente vai lá. O que é preciso é continuar a ocupar espaço nos jornais e televisões com a politiquice diária inconsciente que tem alimentado a nação de há muitos anos a esta parte, sempre na ténue esperança de que se dê o regresso do político corta-fitas. Ele, o político corta-fitas, é o D. Sebastião dos nossos tempos. E com o seu desaparecimento há muito boa gente em estado de choque.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Os encontros da Internacional Socialista



"A Câmara de Cascais, por acaso PSD, ofereceu um jantar de 13 mil euros aos 250 participantes de um encontro da Internacional Socialista (IS), por acaso socialistas. Este gesto de generosidade e ecumenismo foi mal visto pela típica mesquinhez pátria e deu origem às indignações do costume, aflitíssimas com um repasto de 52 euros por estômago e convencidas de que a esquerda, só porque é esquerda, se alimenta a bifanas.

O curioso é que quase ninguém pareceu indignar-se com o encontro da IS propriamente dito. Arriscando acusações de parcialidade, acho esquisito que os principais obreiros da crise europeia passeiem nos países onde a crise é mais flagrante a fim de debatê-la e, não se riam, resolvê-la. Não seria muito diferente se um bando de pirómanos regressasse ao local do incêndio para discutir protecção florestal. Aliás, salvo a provável comparência da polícia no segundo caso e a incompreensível ausência da política no primeiro caso, não é nada diferente.

Mas o cúmulo do descaramento passou pela destacada presença do presidente da IS, Georgios Papandreou de sua graça. O seu papel na desgraça grega, que contemplou e, a bem da "agenda" pessoal, agravou enquanto primeiro-ministro chegaria, num mundo justo, para manter a criatura na prisão durante longos e pedagógicos anos. No mundo que temos, a criatura ciranda por aí a oferecer palpites e alertas. Os nossos media, que deram ao sr. Papandreou a antena que não dariam à comparativamente credível Leopoldina dos hipermercados, divulgaram-lhe as declarações na abertura do convívio cascalense: "A crise não acabou. Ainda hoje, se a Europa não tomar mais medidas, os sacrifícios dos portugueses, gregos, espanhóis e italianos poderão perder-se e mais nos será exigido."

Nem uma admissão de culpas, nem um pio sobre responsabilidade: o importante, note-se, é a Europa "tomar medidas". Não importa que os socialistas tomem juízo ou vergonha na cara. No máximo, tomaram café após o jantar pago pelo contribuinte, uma despesa minúscula face à factura que essa gente já nos legou."

Alberto Gonçalves no DN

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O que um FMI tem de aturar.


Vamos lá ver uma coisa. Não fica bem estarmos a tratar o FMI como se fosse um bando de malucos à procura de destruir Portugal. Sobretudo isso não fica bem a um país que está completamente falido, por culpa própria. Não foi o FMI que levou Portugal à falência. Não foi o FMI que governou Portugal nos últimos anos, que escolheu os investimentos, que aproveitou os recursos. Não foi o FMI. Foi Portugal.

Este último relatório, que até foi pedido pelo governo português, é a visão da instituição sobre o país e sobre o seu futuro financeiro no curto prazo. E em vez de nos levar a discutir o que lá se diz – que não temos de subscrever ou concordar liminarmente - leva-nos estupidamente a discutir o “como se diz” e “porque se diz”.

O FMI comete erros? Pode cometer. O FMI engana-se nas contas? Pode enganar-se. O FMI já se enganou nas contas e já cometeu erros? Já, já se enganou nas contas e já cometeu erros. Mas poderá dar isso azo a que uma classe política incrivelmente medíocre, que só faz asneiras, que só debita demagogia, os trate com desdém? De maneira nenhuma.

Que o povo ande por aí na rua a dizer que o FMI é o diabo ou que se escreva nas paredes “FMI fora daqui”, tudo bem. Em bom rigor, nenhum país quer o FMI por perto. Mas o poder político português tem o dever de responder perante um relatório destes. É falso? Óptimo, vamos lá então saber onde falhou o FMI. Não é falso? Óptimo, vamos lá então ver o que recomendam eles e decidir se o fazemos ou não.

É que esta história do Estado Social é muito bonita, mas... Por exemplo, eu posso prometer educação gratuita para todos, livros incluídos, saúde gratuita para todos, dentes incluídos, apoios sociais aos desempregados e até aos empregados, subsídios para tudo e para mais alguma coisa. Eu prometer, posso. Até posso dizer que acabo com todos os impostos e que o país se financia através da venda de azeite biológico. Mas conseguirei cumprir? Julgo que não.

Ora, esses que falam por aí do Estado Social como se fosse uma garantia – por exemplo, como a liberdade de expressão, que basta o Estado dizer que existe, não precisa de 10 mil milhões de euros nem de 10 mil milhões de polícias para garantir o direito à liberdade de expressão – têm de se explicar. Porque um Estado Social de Luxo todos queremos. Não são só eles. O que se pergunta é: Como?

A verdade é esta: Se esses que falam por aí do Estado Social como se fosse o seu menino nos garantirem que conseguem manter o que existe, repor os cortes e até torná-lo ainda mais social, sem esgotar todos os recursos do país, vota já tudo neles e até duas vezes se isso não tornar o voto nulo.

Mas esses que falam por aí do Estado Social como se fosse o seu menino têm de apresentar um relatório pelo menos ao nível deste do FMI, para provar ou não o que dizem. Sim, porque não se admite que quem acusa o FMI de falta de rigor e de competência, depois ande por aí a prometer coisas por alto. E se alguém tem andado a enganar os portugueses à grande e à francesa, não tem sido, seguramente, o FMI. O FMI, quer se queira quer não, fomos nós - os nossos governantes - que o chamámos. O FMI não está a invadir ninguém nem deverá querer saber de Portugal para outra coisa que não seja jogar golfe e apanhar sol.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Reféns de um país imaginário



A Guiné é um exemplo das mentiras com que se Portugal se embala e com que nada aprende. A não ser a mentir mais. Nos anos 70 mandavam-se os filhos do povo morrer na Guiné. E em 1974 os mesmos oficiais que os chefiaram entregaram aquele território ao PAIGC sem sequer esperar pelas negociações oficiais. (Negociações do Cantanhez, já ouviram falar?) No fim promoveram-se e medalharam-se muito.  Os mesmos coronéis e generais que muito medalhados diziam que o Ultramar não se discutia  continuaram depois muito medalhados a dizer que o Ultramar se devia ter discutido. O Ultramar tornara-se um mapa imaginário do qual Portugal estava refém. Hoje Portugal está de novo refém. Agora de um texto imaginário, a Constituição, que substituiu o país histórico que ia do Minho a Timor pelo país ideológico de um Estado socialista, em que a palavra igualdade não se discute.
Daqui a uns anos aqueles que agora dizem com a mão no peito que a Constituição não se discute dirão muito laureados, biografados e doutorados honoris causa  que ela se devia ter discutido. Mas que não se conseguiu, que não foi possível, que esteve para ser mas não foi… Jamais avaliarão as suas responsabilidades nessa catástrofe mais que anunciada. Mas tal como em 74 e 75 o ordenado nunca falhou aos militares – estivessem eles de que lado estivessem – também neste início do século XXI os ordenados e as avenças, direitos adquiridos das corporações, não lhes faltarão.  Dentro de alguns anos da desgraçada vida dos filhos do povo falarão com a mesma condescendência hipócrita com que os capitães e generais de de 74 ouvem hoje  isto.  As corporações de cada época fizeram-nos reféns de um país imaginário. Reféns do país de que elas se serviram e de que airosamente se desembaraçam quando lhes dá jeito enquanto aqueles que as seguem e  nelas acreditaram são atirados para um canto, como fatos fora de moda.

sábado, 15 de setembro de 2012

Brinquem, brinquem...

Há pouco mais de um ano, o Partido Socialista deixou Portugal na bancarrota.
Na altura, em Abril de 2011, o então ministro das finanças, Teixeira dos Santos, dizia que o Estado só tinha dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos e as pensões dos reformados para mais um mês.
Os juros da dívida soberana eram já insustentáveis, tendo passado em muito os míticos 7%, taxa acima da qual o próprio ministro dissera que se impunha um programa de assistência internacional.
E foi assim que a amaldiçoada Troika aterrou em Portugal…
Quanto ao FMI, tratou-se ‘apenas’ da sua terceira intervenção em Portugal desde o 25 de Abril, o que diz muito da competência dos sucessivos Governos que, de 1974 até ao ano passado, desbarataram os recursos nacionais e hipotecaram o presente e o futuro do País.
E a culpa agora é do ‘Passos’????
Não será antes dos Vascos Gonçalves, dos Soares, dos Cavacos, dos Sócrates, das pensões milionárias, das obras inúteis, dos contratos leoninos, dos rendimentos mínimos, das reformas a contar só com as contribuições dos últimos 5 ou 10 anos, dos estádios, enfim, do fartar vilanagem de quase 40 anos de regabofe em que políticos sem escrúpulos compraram o voto do povo ignorante que agora paga no ‘lombo’ todas as aldrabices com que foi enrolado?
Pensavam, acaso, que a factura não seria apresentada no fim da festa?
Hoje o lema é fora a Troikaabaixo a troika, diria mesmo que, à semelhança do célebre leitmotiv abrilino de “nem mais um soldado para as colónias”, deveria ser nem mais um Euro da Troika para Portugal!
Mas, ninguém esqueça que, quem paga o SNS, os salários da FP e as pensões, é a tal Troikazinha, que quer até ver o Orçamento do Estado para 2013 antes de libertar a próxima tranche do empréstimo…
É realmente espantoso ouvir tantos loucos, seja da oposição ou até mesmo da área política da maioria, perorarem sobre ‘justiça’, ‘solidariedade’, ‘ética’, ‘direitos adquiridos’, etc., sem cuidarem de dar uma única alternativa séria aos terríveis sacrifícios que os desmandos do passado impõem à governação do presente.
Pergunto-me onde é que esses espíritos iluminados vão buscar o dinheirinho para assegurar as funções sociais do Estado se os nossos credores fecharem a torneira, como parece que tantos irresponsáveis pretendem?
Se houver uma crise, acham que os ‘mercados’ confiarão em Portugal? Pensam que a tal Troika perdoa o incumprimento dos compromissos assumidos? Não perceberam ainda que Portugal não tem financiamento normal e, se o financiamento internacional parar, o Estado entra em colapso e quem ganha mil euros por mês pode bem vir a ganhar 200 ou 300 se a corda partir?
Diziam os Antigos que “os Deuses enlouquecem aqueles que querem perder”. E hoje parece que o País se está a preparar para fazer um verdadeiro haraquiri, dando o pior dos sinais para o estrangeiro que, não se duvide, nos observa atentamente.
Se a loucura triunfar e não quisermos poupar os nossos filhos a décadas de miséria por não aguentarmos mais os sacrifícios de agora, pagaremos já daqui a pouco muito mais e, não posso deixar infelizmente de o pensar, teremos o que merecemos: uma outra vida virá e nós pura e simplesmente vegetaremos.
É duro mas a vida é mesmo assim.

sábado, 11 de agosto de 2012

Ai cantaste...!!! Agora dança...!!!


Sábado, 11 de Agosto de 2012
Durante anos vivemos à grande e à francesa. Durante anos julgámo-nos ricos e gastámos como se o fossemos.
Durante anos recebemos milhões em subsídios que gastámos em completas inutilidades ou delapidámos em monstruosas, mas sempre impunes, roubalheiras. Durante anos atirámos para o lixo todas as hipóteses de mudar a economia nacional, tornando-a desenvolvida, sustentável e moderna, preferindo optar por projectos megalómanos mas muito evidentemente "manhosos".
Durante anos julgámo-nos os "maiores", apenas preocupados em, "parôlamente", ostentar riqueza, como quaisquer "novos-ricos" tolos, em vez de optarmos por trabalhar afincadamente, poupar equilibradamente e investir ajuizadamente.
Durante anos andamos a exigir ao Estado aquilo que lhe competia fazer, mas, fundamentalmente,  aquilo que caberia a cada um de nós realizar - exigindo ao Estado como se o Estado fosse um estranho e não todos nós ou como se todos nós não tivéssemos que concorrer para o seu sustento e cuidado para que, então, ele pudesse também cuidar de nós.
Durante os últimos 38 anos pensámo-nos como uma país rico e próspero quando nunca saímos da "cêpa torta" da mais endémica e lamentável pobreza - a pobreza intelectual.
Durante os últimos 38 anos anos, enganámo-nos a nós próprios, recusando-nos a ver o que efectivamente somos e que toda a gente vê -  porque nos julgámos sempre mais do que éramos e porque nos custa ver a realidade. Não produzindo o que gastávamos, vivemos sempre, nesses anos, do que pedimos emprestado. E, mesmo vivendo do emprestado, não deixámos nunca de gastar como se nada devêssemos.
Perante este quadro da mais indigente e miserável pobreza, resta-nos agora ser confrontados com a crueza da realidade: BCE quer salários mais baixos para países em dificuldades ganharem competitividade.

domingo, 22 de julho de 2012

abaixo o passou-bem!



Ao contrário do que coloquialmente se poderia pensar, bem vistas as coisas não há nada de mais sujo, repelente e nojento do que uma mão. Aliás, se pensarmos bem, até um rabinho acabado de lavar num bidé jeitoso é mais limpinho do que a mão que o lavou. A mão é, sem margem para qualquer tipo de dúvidas, a parte mais imunda e repugnante do corpo humano.

Uma mão anda sempre à solta, ao ar livre, e mexe em toda a porcaria de coisas em que as outras mãos habitualmente também mexem. Nos carrinhos de compras dos supermercados, por exemplo, ou nos varões dos autocarros, nos varões em geral, nas maçanetas das portas (com particular destaque para as dos táxis e as dos quartos de banho públicos). Uma mão mexe em tudo, anda sempre agitada, nunca está quieta. Desde criança que sabemos que até uma mão morta vai bater àquela porta. A mão mata mosquitos, carregadinhos de sangue de toda a espécie, e, com sorte, mata moscas que andaram entretidas com dejectos abjectos. Nenhuma outra parte do corpo humano mexe e remexe tanto em tanta porcaria. A mão mexe nas ementas dos restaurantes, nos jornais dobrados esquecidos ao balcão e nas revistas relidas dos consultórios médicos. Mexe até no resto do corpo, esteja melhor ou pior lavado. Mexe nos manípulos dos autoclismos. As mãos nunca estão limpas. Até para fechar a torneira que as mãos sujas abriram para serem lavadas se sujam as mãos. As mãos limpam o suor da testa e julgam-se higienizadas com um leve passar pelas calças. A mão passa-se pelo pêlo. Afaga caninos. A mão abafa a tosse, recolhe perdigotos, faz todo o género de tropelias.

As mãos estão ainda cheias de dedos, também eles repelentes, com unhas maiores ou menores que arrecadam tudo quanto não se vê e mais ainda, por vezes bem visível. Dedos que se enfiam nas campainhas, nos botões dos semáforos das passadeiras, nos narizes enquanto se aguardam os verdes, nos ouvidos em qualquer altura do dia e sabe-se lá onde mais durante a noite. Dedos que tiram remelas, macacos e até cera dos ouvidos. Que não raras vezes raspam os dentes e tiram uma lasca de bacalhau de entre eles. Nunca se sabe o que uma mão esteve a fazer e já de longe se dizia que uma mão não devia saber o que fazia a outra, particularmente quando uma delas oferecia esmolas em dinheiro, essa coisa imunda que muda de mão em mão. Ninguém pode, de boa-fé, confiar numa mão. Perco muitas vezes a luta mas peco invariavelmente no abraço da paz, inventando toda a sorte de maneiras de sem-maneiras me furtar ao acto. Para quê tocar as nossas nas palmas das mãos dos outros? Porventura lemos a sina? Seremos todos dermatologistas?

Alguém que vem para mim de mão estendida provoca-me um pânico de tal forma desmedido que mais preferiria que me apontasse uma 6.35.
Há por aí tantas campanhas, deveria fazer-se uma campanha contra o passou-bem. Eu poderia liderar a coisa mas agora já estou mais calmo.



 Vasco Lobo Xavier 

domingo, 15 de julho de 2012

ENRASCADOS

ENRASCADOS - Um dia, isto tinha que acontecer...

"Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?"

Autor: Mia Couto

quinta-feira, 31 de maio de 2012


Ali Babá só enfrentou 40


auditoria ao modelo de gestão, financiamento e regulação do sector rodoviário, hoje publicada, apresenta conclusões que apontam, de forma inequívoca, para a existência de um comportamento deliberado do Governo liderado por José Sócrates (e em que era Secretário de Estado Paulo Campos) de sonegação de informação ao Tribunal de Contas e de violação de elementares interesses do Estado. Mais, e em concreto, tal Governo terá promovido a celebração, no âmbito das PPP, de contratos paralelos que importaram o agravamento das condições financeiras a suportar pelo Estado em 705 milhões de euros. A confirmar-se tal situação, todos devem assumir as suas responsabilidades. Desde logo, a Procuradoria-Geral da República, a quem se pede que, por uma vez, cumpra com diligência e competência as suas obrigações, promovendo a investigação que se impõe para determinar a viabilidade da responsabilização, em primeira linha, dos membros desse Governo envolvidos neste esquema predatório do erário público. Mas, também, das concessionárias e entidades bancárias envolvidas na assinatura dos contratos paralelos, cujas consequências e intuitos não podiam desconhecer. Por outro lado, o PS tem a estrita obrigação de tomar uma posição clara sobre este assunto, uma vez que é o partido que suportou politicamente esse Governo e  tem como militantes e deputados da sua bancada parlamentar os autores de tais actos. A gravidade da matéria não permite que António José Seguro a ignore ou a desvalorize, sob pena de comprometer irremediavelmente qualquer réstia de credibilidade. Por último, o actual Governo deve ser consequente com os factos apurados, recusando-se a efectuar qualquer pagamento previsto nos ditos contratos paralelos e promovendo a desvinculação jurídica do Estado português de quaisquer obrigações ali previstas. Se isto não for assim, teremos de concluir que Ali Babá teve muita sorte pois só teve de enfrentar 40 enquanto os portugueses se debatem, a cada dia, com muitos mais.

terça-feira, 24 de abril de 2012

TROPA FANDANGA


Parece que a defunta associação 25 de Abril e o vetusto pai Soares resolveram fazerprova de vida anunciando que não participarão nas celebrações oficiais da data, aquela com o argumento de que “As medidas e sacrifícios impostos aos cidadãos portugueses ultrapassaram os limites do suportável” e este em solidariedade com a dita associação.
Se têm razão quanto à violência dos sacrifícios a que os Portugueses estão submetidos, o que cabe perguntar é porque só acordaram agora e não antes, quando participaram ou simplesmente calaram ao sermos conduzidos para o caminho da bancarrota.
É que esse caminho começou logo nos alvores da revolução e prosseguiu, apoteótico, ao longo destes quase 40 anos, com a demagogia dos sucessivos governos.
Desde as nacionalizações e a destruição da economia nacional, logo no tristemente célebre PREC, ao abandono da agricultura e da pesca, à desindustrialização do País,  à assumpção de encargos anuais de dezenas de milhares de milhões de euros com o funcionalismo e a burocracia de Estado e com prestações sociais concedidas sem as devidas contrapartidas contributivas, no caso das reformas (e não me refiro às mínimas), ou mesmo sem qualquer prestação de trabalho, como no caso dorendimento social de (des)inserção, passando por errados e ruinosos investimentos públicos, seja nas chamadas SCUT ou em obras faraónicas de utilidade económica nula ou duvidosa.
Esquecem também a indigência cívica e moral em que se encontra Portugal, com um Estado corrupto, um empresariado subsidiodependente, uma juventude abandonada, uma escola a saque, uma sociedade envenenada pela boçalidade imperante nosmedia, um exército de políticos devoristas que semearam a miséria social e comprometeram o nosso futuro colectivo enganando sistematicamente os eleitores com promessas vãs, que sabiam não poder cumprir.
Quanto ao novo governo, deixem-se essas ricas comadres de tretas que ele está simplesmente a limpar o lixo em que os camaradas transformaram o País.
Faz bem a associação do reumático em não aparecer no 25/4.
Quanto a Soares, o tal que, há dias, vendo o motorista (sim, que a excelência tempópó e chauffeur pago pelo povo) autuado, vomitava que “O Estado é que vai pagar a multa”, faria igualmente bem corando de vergonha ao lembrar as suas responsabilidades na descolonização exemplar e, mais tarde, nos famigerados tempos do guterrismo e do sócretinismo. Como, porém, a não tem, fique-se a cevar na sua fundaçãozinha paga com o dinheiro dos contribuintes.
De qualquer modo, fazem bem em não aparecer porque os Portugueses, arruinados, desempregados, temerosos do seu futuro, também não têm razões para comemorar a dita murcha data.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Parábola das PPP´s

"Aqui há uns anos o ministro de um país moderno decidiu dinamizar as exportações. Foi ter com um fabricante de frigoríficos com quem travou o seguinte diálogo:


Ministro: Olhe lá, o governo tem um projecto para dinamizar as exportações. Verificamos que não exportámos para o Pólo Norte, verificámos ainda que o Pólo Norte tem a menor quantidade de frigoríficos do mundo. Vai daí surgiu uma ideia: vamos exportar frigoríficos para o Pólo Norte. Quer ser o nosso parceiro?

Fabricante de frigoríficos: Depende. Dão-me umas cláusulas leoninas no contrato?

Ministro: Não pode ser. Temos que defender o interesse público.

Fabricante de frigoríficos: Então não estou interessado.

Ministro: Ok. Dou-lhe 2 cláusulas leoninas.

Fabricante de frigoríficos: 4

Ministro: 3

Fabricante de frigoríficos: Ok. De acordo.

Ministro: Negócio fechado?

Fabricante de frigoríficos: Ainda não. Só uma perguntinha: quem fica com o risco de os frigoríficos não se venderem?

Ministro: Você, claro. Você é que é o empreendedor.

Fabricante de frigoríficos: Bem, então não me interessa.

Ministro: Ok. Nós ficámos com o risco.

Fabricante de frigoríficos: Negócio fechado.

entretanto...

Fabricante de frigoríficos: Ei, Ministro, espere lá. E nos próximos governos, que garantias tenho eu de que os novos ministros sejam assim gente com visão, e respeitem o nosso acordo?

Ministro: Ó homem, você não vai fazer um contrato comigo, mas sim com o Estado. E quem o vai redigir é quem nós sabemos - fica uma coisa à prova de bala. E não se aflija: o negócio vai correr bem, era preciso que o País ficasse à beira da bancarrota para o Amigo arriscar realmente alguma coisa. E isso não vai suceder, pois não?

Fabricante de frigoríficos: Claro que não. Negócio fechado.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Damnato Memoriae

O Senado Romano, quando queria eliminar a memória do Imperador recentemente morto, proclamava o Damnato Memoriae, disposição que autorizava a destruição de todas as referências, escritas e físicas, do tirano que queriam esquecer.Vem isto a propósito do artigo de opinião que Miguel Sousa Tavares escreveu este fim de semana no Expresso.Afirma ele que “ o desporto nacional é o tiro a Sócrates” e que “ o nome de Sócrates é o santo-e-senha que chama a si todos os males e toda a sujidade, limpando todo o resto, agora e para sempre”.Na realidade, os "amigos" de Sócrates, o que querem promover, é exactamente o contrário ( que no Expresso são vários, desde Ricardo Costa que ainda há um ano editou primeiras páginas com notícias falsas para proteger o primeiro-ministro de então, até Nicolau Santos que, falhando enquanto enquanto jornalista e economista , teve a arte de, no decorrer do todo o consulado de Sócrates, não denunciar a grave situação económica e financeira a que a incompetência e irresponsabilidade de Sócrates nos estava a conduzir ). Os viúvos de Sócrates estão em campanha para “limpar” a imagem do ex-primeiro ministro, atirando sobre todos aqueles que viram que o “rei estava nu “, tentando limpar, agora e para sempre, a responsabilidade da bancarrota a que ele, e o seu governo, nos conduziram, e que é responsável pela austeridade que todos temos de sofrer para recuperar algum de conforto económico que nos fez perder.Aqui, o Damnato Memoriae, é exactamente esse: querem lavar o cérebro aos portugueses para que estes esqueçam o mal que nos fez.Mas não vão conseguir.Os portugueses já votaram a sua opinião: despediram o “aldrabão, incompetente e irresponsável que nos conduziu à bancarrota” e não vão esquecer-se do que aconteceu, para que não venha, este ou outro aprendiz de tiranete, tentar fazer o mesmo novamente.Como as sondagens, deste último fim de semana, novamente comprovam ( sempre que as sondagens confirmem que os actuais partidos do governo mantêm a maioria, aconselho MST a perceber a leitura mais básica desse resultado : o que os portugueses exprimem é "apoiamos este governo nesta situação difícil que estamos a viver para ultrapassar a bancarrota que o anterior governo nos deixou").

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

VICIADOS NA MENTIRA

Tínhamos todos certificados de habilitações que não serviam para nada passados pelas Novas Oportunidades. Pontes e tolerâncias e ponto consagrados como direitos constitucionais. Todos os dias eram dias históricos porque um evento com a devida cobertura mediática assim o garantia. Éramos todos tão felizes. As principais questões do país eram quem podia casar com quem. Éramos um verdadeiro salão de festas. Medina Carreira era um tremendista. Os ordenados dos funcionários públicos aumentavam 2,9 num ano. E íamos ter aeroportos, TGV, auto-estradas para todo o lado… Essa mistificação acabou neste dia

Sócrates e Alberto João foram o lado mais grotesco dessa ilusão mas estão longe de ser os únicos. Anda para aí uma legião de gente que todos os dia inventa uma indignação para justificar não se ter feito antes o que se devia. Confesso que tenho pouca paciência para essse exercício de auto-indulgência mas reconheço que funciona num país que se viciou na mentira. Mas o que se espera é que PS e PSD apresentam propostas ideologicamente sustentadas para o país. Que o PS deixe de andar a fazer de conta que é a água oxigenada deste estado que vive acima das sua possibilidades: onde é que estão as propostas socialistas para governar como socialistas sem nos arruinar? E que o PSD se deixe de esconder atrás da troika para justificar as medidas que se estão a tomar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

As moscas e os tachos não são só na politica

A propósito das recentes nomeações para uma das empresas do Estado, veio à baila novamente a conversa do “tacho” e das das “moscas” que são sempre as mesmas. Por vezes, até pode ser verdade, mas quem tem moral para criticar?

Dizem que na política são sempre os mesmos. No governo, na Assembleia da República, nas Empresas Públicas. Mas a verdade é que se passa exactamente a mesma coisa nos restantes sectores da sociedade portuguesa.

A começar por quem mais critica os políticos, os Comentadores. Há anos que são os mesmos apesar de não acrescentarem ou esclarecem algo. Marques Lopes, Adão e Silva, Clara Ferreira Alves, Daniel Oliveira, Marcelo Rebelo de Sousa.

Nos Sindicatos, que se desvirtuaram e hoje são autênticos braços armados dos partidos políticos, temos homens como João Proença e Carvalho da Silva há 30 anos! Mas também Bettencourt Picanço e companhia, noutros sindicatos.

E por falar em Corporativismo, já não enjoa na Saúde ver a cara do Francisco George ou do Eduardo Barroso? E na Justiça Pinto Monteiro, Cândida Almeida, Rogério Alves, José Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Moita Flores.

Mas também na Música são sempre os mesmos. Qualquer programa musical de TV tem de ter a Simone, o Fernando Tordo, o Paulo de Carvalho ou o Fernando Mendes. Só não aparece o Zeca Afonso e a Amália porque já morreram.

Se passarmos à área da Representação, mesmo com o boom de actores da era Morangos com Açúcar, parece que só existem a Eunice Muñoz, o Nicolau Breyner, o Tozé Martinho, o Herman José, o Virgílio Castelo ou a Alexandra Lencastre.

O Desporto não é diferente. É só futebol e as mesmas caras: Gilberto Madaíl, Pinto da Costa, Valentim Loureiro. E quanto a atletas é só Eusébio, Figo e Ronaldo. No meio de tanta bola aparece por vezes a Rosa Mota.

No mundo dos Negócios apenas interessa ouvir os banqueiros Ricardo Salgado, Fernando Ulrich e Santos Ferreira. Ou então os “génios” que sustentam o seu sucesso no monopólio que têm: Zeinal Bava, António Mexia ou Ferreira de Oliveira.

Mas não acaba aqui. Na área Militar parece só haver um especialista, o General Loureiro dos Santos. Na Arquitectura a dupla Siza Vieira / Souto Moura, e o resto é paisagem. Na Pintura é Paula Rego e nada mais.

Mas nós gostamos e continuamos a alimentar este “sistema dos mesmos”, que foi precisamente o que nos trouxe até aqui. É que o país não está mau só de Finanças. Basta olhar para as áreas que referi e ver como estagnamos há anos.

A sociedade portuguesa (principalmente a comunicação “dita” social) cultiva este “sistema dos mesmos” e nunca deu espaço para a renovação. Mas no final de contas, os políticos é que são os únicos maus da fita.

domingo, 8 de janeiro de 2012

EMIGRAÇÃO


> "A propósito de uma suposta recomendação de emigração dirigida a jovens licenciados".

O ruído que tem vindo num crescendo, com acusações e insultos à mistura, a propósito de meia dúzia de frases logo deturpadas a jeito por quem nelas quis ler o que lá não estava mas convinha ao ataque a quem o disse, não tem a ver com o que um ou outro ministro diz sobre matéria de emigração ou emprego, muito menos com uma preocupação genuína com o futuro de milhares de jovens desempregados, mas parece, sobretudo, uma arma de arremesso, a denunciar, mais uma vez, a grande preocupação dos políticos que temos pelo que se diz ou não diz, mais , muito mais, parece, do que pelo que efectivamente se faz ou deixa de fazer. E é assim, com atoardas lançadas no meio da confusão da desinformação sensacionalista que gente inteligente e bem formada se deixa ingenuamente arrastar para a absurda defesa de concretização de um direito moral de emprego num país sem cheta, com as empresas a afundar e os desempregados a aumentar.

E condena-se assim quem naturalmente reconhece valor aos jovens que desejam iniciar a sua vida profissional e tentam fazer pela vida lá fora, como muitos de outras gerações já fizeram antes e um pouco por todo o mundo se vai fazendo há muito. É gente bem preparada, que tem valor, disposta a fazer-se gente e a ganhar o próprio sustento com trabalho honesto, procurando mais ou menos longe da terrinha onde nasceu uma oportunidade que a nossa penúria resultante dos desgovernos de incompetentes e corruptos não lhes pode dar cá dentro. Mas, com tanto histerismo condenatório, amaldiçoando a ideia de emigração forçada, como se outra houvesse mais ao gosto de aventura, dir-se-ia que preferem esses indignados opositores a qualquer ideia de emigração de jovens que os garotos vão ficando por aqui, talvez arrumando carros, talvez, com mais sorte, prateleiras de supermercado... ou vivendo indefinidamente à custa dos pais.

Como inventar empregos onde os não há?! Como fazer nascer empregos sustentáveis à força de subsídios com dinheiro que não temos e nos é emprestado a peso de ouro?! Por mim, não tenho dúvidas de que prefiro mil vezes ter os meus filhos a ganhar a vida honestamente lá fora do que a puxar o lustre a esquinas e sofás numa choradeira gritada de não lhes darem (!) empregos. Serei só eu?! Ou eu e mais uma multidão silenciosa que pensa mais ou menos isto e em nada se identifica com quem mais berra o seu contrário?