VALE BEM O TEMPO QUE SE PERDE A LER
Em mais um rigoroso exclusivo, e após uma investigação cuidada, o Aventar descobriu Maria (nome fictício), a prostituta cujos serviços, por coincidência, foram solicitados pelos seis candidatos presidenciais, durante a presente campanha. Porque a perspectiva desta profissional do sexo pode permitir aos nossos leitores uma visão diferente dos seis homens que poderão vir a ocupar a cadeira presidencial, aqui deixamos as declarações de uma mulher que partilhou a intimidade de todos eles, ainda que por breves momentos.
No geral
“Olha, amor, os políticos são na cama como na rua: falam muito e não fazem nada. Tirando o Manuel João Vieira, que é um homem como deve ser, que sabe portar-se como um porco, nunca mais aceito clientes vindos da política, até porque isto pode vir a saber-se e fico malvista e eu posso ter muitos defeitos, mas sou muito limpinha, ficas a saber.”
Sobre Cavaco
“Olha, lindo, só te digo uma coisa: ainda bem que há esta regra de não darmos beijos, que o homem tinha-me aquela boca toda cheia de restos de bolo-rei. Ele disse-me que é um trauma já de pequenino: quando os pais lhe ralhavam, metia um pedação de bolo na boca. Mesmo quando eu lhe comecei a dizer que ele tinha de se comportar de outra maneira e responder àquilo que lhe perguntam, sacou de uma fatia de bolo que tinha no bolso no casaco e pôs-se-me a mastigar ali mesmo à minha frente, com a boca toda aberta. Agora, o pior foi ter estado mais de meia hora a explicar-lhe que não se dizia “pustituta”. Antes de se ir embora, disse que não queria dar uma segunda volta, porque ficava muito caro.”
Sobre Alegre
“Credo, que voz linda que o homem tem e a vaidade que tem na voz! Eu bem me pus assim toda sexy, com uma lingerie linda, mas o homem só sabia andar pelo quarto a dizer poesia. Fiquei tanto tempo naquelas posições de capa de revista que até tive cãimbras, poça lá para a poesia! Aquilo foi “Pergunto ao vento que passa” e coisas assim. E depois, pôs-se a inventar frases assim todas coisas, tipo “Vou alimentar-te com a minha voz até a tua carne ficar saciada” e uma quadra que me dedicou que era assim “Não sentes na tua pele/A grossura da minha voz?/Hei-de desfazer-te em mel/E misturar-te com noz.” Depois, começou a perguntar-me se eu estava a gostar e eu lá tive de fazer de conta que estava toda maluca. Despediu-se todo contente e disse: “Se, dia 23, aquilo correr mal, venho cá declamar-te aquele que diz “E alegre se fez triste””
Sobre Fernando Nobre
“Ai que querido que é o doutor! Olha, foi o primeiro mesmo a tocar-me. Mal o cumprimentei, como estava um bocadinho rouca, sacou de uma espátula e enfiou-ma quase até ao umbigo, ia-me vomitando toda, mas isto já se sabe, uma pessoa nesta profissão tem de estar preparada para tudo e olha que já tive de fazer bem pior do que meter a espátula na garganta. Depois lá se acalmou e lá fomos falando mais um bocadinho. O problema foi quando tirei o soutien! Bem, o homem parecia que tinha uma mola, salta-me da cama aos gritos a dizer que não tem medo de nada, que já esteve no meio de balas, terramotos, campos de refugiados e até claques de futebol. E eu disse-lhe: “Pronto, amor, eu ponho o soutien outra vez.” e lá acalmou. Olha que isto é tudo natural, silicone do melhor! Ora bota aqui a mão. Ui, filho, também estás com medo? Não te ia cobrar nada. Bom, o senhor lá foi embora e prometeu-me que só não volta cá se lhe derem um tiro nos tintins.”
Sobre Francisco Lopes
“Ai esse vê-se que é boa pessoa, mas tem assim um ar tão sério e começa logo a falar sem lhe perguntarem nada. Quanto entrou, era camarada para cima e camarada para baixo e eu pensei logo que era um daqueles que gosta de chamar nomes. Depois, começou a passear com as mãos atrás das costas e pediu-me que lhe mostrasse as instalações. Ora, eu não tenho muito para mostrar, mas lá lhe mostrei o bidé e a cama. E ele ia dizendo: “Isto não são condições de trabalho, camarada, é o grande capital que explora continuamente os trabalhadores e as trabalhadoras e que asfixia as pequenas empresas como tu.” Bem, até estive quase a fazer-lhe um desconto, que nunca ninguém me tinha chamado “pequena empresa”. Foi-se embora e deu-me assim um abraço muito forte e disse-me que havia de voltar aqui, na clandestinidade.”
Sobre Defensor Moura
“Ao princípio, não gostei, confesso. Obrigou-me a vestir de noiva de Viana e nem cumprimentou nem nada e já estava a perguntar se o Cavaco pagou e a apostar que não tinha pago e que nem ia pagar. Depois, só dizia coisas que eu não percebia e ria-se muito. Dizia que o Cavaco tinha de nascer duas vezes para ser tão bom na cama como ele. Quando comecei a tentar assim seduzi-lo, disse que não, porque era contra o centralismo e eu ainda lhe disse que podia descentralizar se quisesse. E comecei a fazer-lhe festinhas e até já lhe tinha conseguido descalçar um sapatinho. Depois, perguntei-lhe se não queria tourada e o homem ficou possesso. Pôs-se aos gritos a dizer que não me admitia aquilo e saiu com o sapato na mão e tudo. Olha, amor, não percebi nada, aquilo deve ser das águas do Lima ou qualquer coisa assim.”
Sobre José Manuel Coelho
“Ai é tão querido o raio do homem! Mas é um bocadinho chato. Para já, estava sempre a bater à porta quando os outros estavam cá dentro. Foi o único que chegou a fazer alguma coisa, mas nem dei por nada, deve ser por isso que se chama Coelho, que até parecia que já tinha acabado antes de começar. Mas é tão cómico. Olhe, também me chamou uma coisa que eu ainda hoje nem sei o que é: piuta ou assim. Entrou-me aqui e só trazia vestido um relógio muito grande à frente e uns boxers com aquele símbolo do Hitler. Depois, não percebi bem, estava sempre a falar do jardim e achei muito estranho, porque tinha até feito a depilação há pouco tempo. Foi-se embora a correr, porque disse que lhe tinha cheirado a câmaras de televisão.”
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