Nos quase 40 anos que leva o regime, José Sócrates foi, a seguir a Álvaro Cunhal e descontando as sinistras figuras do PREC, o mais temível socialista e estatista que chegou ao poder em Portugal. Sob a capa de um homem moderno e sofisticado, bem-falante e mediático, Sócrates começou por entusiasmar à esquerda e à direita, e conquistou, graças a isso, a única maioria absoluta que o PS alcançou na sua história. Com essa maioria de que legitimamente se apropriou perante um partido submisso e servil, desenvolveu um programa pensado e consciente de crescimento do estado e do sector público sem precedentes desde o PREC. Com ele, José Sócrates colocou o estado em todos os sectores da economia, invadiu a privacidade dos cidadãos, reduziu liberdades e garantias individuais perante o governo e o fisco, aumentou os impostos para sustentar as suas políticas públicas, pagar «ppp’s» e «magalhães», desenvolveu uma oligarquia política, burocrática e financeira horizontal aos grandes interesses do país, imiscuiu-se na comunicação social como poucos o haviam feito, condicionou indelevelmente a marcha da justiça, deu guarida a todas as causas fracturantes que a extrema-esquerda exibia como bandeiras suas – legalizou o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, retirou os cruxifixos das escolas públicas, quantas vezes acompanhado pelo aplauso saloio da direita indígena que via «princípios» onde apenas estava política -, reduziu a iniciativa privada na saúde e na educação, gastou recursos públicos sem fim para «incentivar a economia», duplicou, em meia-dúzia de anos, o défice público que herdara, nacionalizou bancos e intervencionou indirectamente outros bancos e empresas. José Sócrates é um verdadeiro homem de esquerda, um genuíno socialista que vê no estado o motor da sociedade e no governo o dinamizador da economia e do bem-estar, e foi dentro desta lógica que governou Portugal durante seis anos. Este homem dominou, com mão de ferro sob luva de pelica, ao ponto de quase o trepanar, um partido com tradições históricas de liberdade e inconformismo, pondo-o ao seu serviço e ao serviço da visão pessoal que tinha para o país. Ora, ao invés do que agora crêem alguns ingénuos, um homem destes não se retira da cena política aos 50 anos de idade, apenas e só porque teve um desaire eleitoral e porque abandonou a chefia do seu partido. Ele saiu apenas porque não podia e não pode, por enquanto, continuar. E foi-se embora atirando as suas responsabilidades para quem lhe sucedeu, o que, em política e, sobretudo, em momentos críticos, não custa muito a fazer crer. Muitos dos que hoje se julgam seus inimigos, mas que num passado recente o admiravam secretamente e até o julgavam de «direita» e quase um «liberal», e diziam mesmo que ele estava a fazer no governo o que Durão Barroso não fizera e deveria ter feito quando por lá passou (quantas vezes lemos e ouvimos isto?…), têm hoje a ilusão de que a memória política do povo não lhe perdoará o estado em que deixou o país. Para estes e para todos os que julgam José Sócrates «arrumado», fica aqui um conselho: não o subestimem.
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