O ainda chamado Partido Socialista completou ontem o espectáculo iniciado há uma semana em Espinho com a eleição da Comissão Política e do Secretariado Nacional. Como se esperava, o órgão máximo é completamente dominado por fiéis do grande líder. O partido do Largo do Rato, que o secretário-geral diz ser de esquerda, moderado, democrático e popular, sem que ninguém lhe pergunte o que é que tudo isto quer dizer, instalou-se no Estado e nos negócios de uma forma invulgar nesta democracia com 34 anos.
Tudo gira à volta do grande líder, que não se engana e manifestamente não tem quaisquer dúvidas sobre o que anda a fazer neste sítio cada vez mais pobre, muito manhoso, hipócrita quanto baste, deprimido e cada vez mais mal frequentado. As vozes críticas são excepções não só no partido do senhor engenheiro como na sociedade civil.
Os militantes procuram não desagradar ao chefe, que lhes dá lugares em tudo o que é administração pública e nas listas para as eleições que aí vêm, e os empresários gravitam à volta do senhor presidente do Conselho porque sabem que os negócios são todos decididos em São Bento, com ou sem concursos públicos, e quem desagradar ao chefe corre o risco de ficar fora da lista dos privilegiados. O grande líder não ouve ninguém, só ele tem ideias para resistir à crise, é o pai e a mãe dos indígenas, das famílias e das empresas.
No meio deste deserto de princípios e de coragem aparecem, uma vez por outra, alguns corajosos que ousam pôr o dedo na ferida e dizer que o rei vai nu. Belmiro de Azevedo é um deles. O outro é Alexandre Soares dos Santos, dono da Jerónimo Martins, que já afirmou que a demagogia irresponsável do grande líder estava a agravar a tremenda crise do sítio e que esta semana voltou ao ataque quando disse que o senhor presidente do Conselho está cansado, mal assessorado e obcecado por Francisco Louçã e o seu Bloco de Esquerda. Alexandre Soares dos Santos disse mais.
Numa altura em que o desemprego dispara e lança milhares de pessoas no desespero, o empresário não percebe por que é que o Governo não ouve nem discute medidas concretas de defesa do emprego com as empresas e seus gestores. Alexandre Soares dos Santos não percebe. Ou melhor, percebe bem de mais. Como vão percebendo muitos portugueses. O Partido Socialista assaltou o Estado de uma forma nunca vista e usa os dinheiros públicos para comprar apoios e castigar quem ousa pôr em causa o grande líder.
António Ribeiro Ferreira, Jornalista
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