À primeira vista, a já famosa cena da acção de formação sobre o Magalhães dá vontade de rir. Uma data de professores-palhaço, a alinharem em duvidosos números de circo. Números esses, por aquilo que me contam, não muito diferentes de certos eventos de outdoor e de team building nas grandes empresas.
Ainda à primeira vista, os infelizes apanhados no vídeo fazem o que fazem pois só assim se poderiam candidatar ao sorteio de um Magalhães.
A uma segunda vista, aquilo lembra o ensaio de uma propaganda fascista ou comunista; e a uma terceira vista é muito mais do que isso: é um sintoma do totalitarismo do Estado que, insidiosamente, está a tomar conta da sociedade portuguesa (que dorme, anestesiada).
Um sintoma do medo que grassa actualmente pela função pública e que leva as pessoas a fazerem certas coisas estúpidas que lhes são pedidas.
Um medo revelado pela multiplicação de ordens de serviço, de memorandos internos e de sugestões de actuação, destinados aos funcionários, à arraia miúda que, assustada com a crise, com os despedimentos, a prestação da casa, não questiona duas vezes.
Um outro sintoma é a intoxicação televisiva da imagem de Sócrates. Como um verdadeiro Grande Líder, o primeiro-ministro não dá descanso ao seu povo: ele inaugura isto, ele distribui aquilo, ele visita aqueloutro…
A qualquer hora do dia que se atente no que está a dar em algum dos canais (quando não em todos), dá seguramente Sócrates, a propagandear-se e ao seu governo de forma descarada, sem qualquer pingo de vergonha ou de recato. Como qualquer Grande Líder que se preze, é na unilateralidade da mensagem, ou seja, no discurso em cima do púlpito, que se sente mais à vontade, recusando sempre que pode a concertação e o diálogo. Aplaudido por uma massa política amestrada que ou tem medo ou é bem paga, ou ambas as coisas, não tem vozes contra - nem no PS, nem na oposição -, e as poucas interpelações incómodas que lhe são feitas, rechaça-as de forma mal-educada, disparando frases como “Agora não porque estão à minha espera para jantar”. Com um enorme à-vontade, portanto, manda o país à merda em directo. A imposição da imagem do PM visa propagar o culto da sua pessoa; pessoa, esta, cada vez mais destacada do partido socialista e, até, dos restantes membros do governo, meros obreiros do mestre. Aos poucos, Sócrates tem vindo a despojar o país de massa crítica, insinuando-se como o paizinho da nação, o chefe modernaço-apoiante-das-novas-tecnologias, treinando-se diariamente para uma nova maioria absoluta (que vai obter, pois não há alternativa: o PSD não existe).
Para nosso azar, conta com um Presidente da República mansinho, mansinho, que se basta com um vetozito político de vez em quando e em passear com a sua Maria.
Cuidado, Portugal. Já houve ditaduras que começaram com menos, e algumas começaram assim: eleitas democraticamente.
in Controversa Maresia
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