As pessoas mais sensatas ou esclarecidas, têm normalmente uma visão mais realista e pragmática da sociedade. As opiniões que expressam radicam-se na análise da realidade, por norma, menos optimistas do que os discursos dos vendedores de sonhos. Reconhecendo que pelo seu carácter, existe gente indefectivelmente optimista mesmo quando no centro das piores tormentas, não creio que as mensagens do tipo, entre mortos e feridos.., contribuam substantivamente e a médio ou longo prazo, à consensualização colectiva dos factos da vida.
Os anos da democracia, saldam-se pela utopia da vida fácil. Vivemos anos de riqueza a crédito, facilitismos vários e uma enorme irresponsabilidade social, durante os quais não salvaguardámos os capitais nem os meios necessários ao pagamento da factura que forçosamente, chegará. Vendido o ouro dos cofres do Banco de Portugal, o património público, esgotados os fundos europeus, estamos por nossa conta e risco, pobres, endividados, incultos, iletrados, incompetentes, e sem saber o que fazer à vida.
Os discursos realistas são incómodos, pessimistas, dos quais ninguém gosta. As pessoas preferem a ideia do paraíso cor-de-rosa, de que a Senhora de Fátima nos há-de valer, de que a crise é só para os outros, de que alguém há-de resolver os problemas ou, confortamo-nos no mais prosaico, quem vier atrás que feche a porta. Por isso, elegemos charlatães que nos vendem a felicidade em pacote, nos dispensam de trabalhar, de estudar, de fazer pela vida. Por isso fechamos escolas e levamos os filhos aos entretenimentos desportivos. Encerramos hospitais e inauguramos piscinas. Assistimos a telenovelas em vez de ler. Discutimos futebol em vez de discutir o país. Preferimos a alienação à realidade. Ainda assim, a factura está aí e desta vez, ninguém empresta dinheiro para a pagar.
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