sábado, 27 de fevereiro de 2010

para maiores de seis anos

O primeiro-ministro foi visitar uma escola, acompanhado por uma comitiva que incluía a ministra da Educação, o secretário do estado-em-que-isto-está, repórteres, cameramen, etc., além de muitos assessores.

Depois de apresentar todas as maravilhosas realizações do seu governo, diz às criancinhas estar disponível para responder a algumas perguntas. Uma das crianças levanta a mão e o primeiro-ministro dirige-se-lhe.


– Qual é o seu nome, jovem?
– Sou o Manelinho.
– E qual é a sua pergunta?
– Eu tenho três perguntas:
1. Onde estão os 150 mil empregos prometidos?
2. Quem meteu ao bolso o dinheiro do outlet?
3. O senhor tinha conhecimento e tomou parte nas negociatas e nos escândalos de que todos falam?
O primeiro-ministro mexe-se, tosse, assoa-se, ajeita as mãos e vai tomar a palavra para começar uma das suas "cortinas de fumo" verbais quando a campainha para o recreio toca e ele aproveita para dizer que responderá depois do intervalo.
Após o recreio, o primeiro-ministro volta a dirigir-se aos alunos.
– Porreiro, pá. Onde estávamos? Acho que eu ia responder a algumas perguntas, não é? Quem tem perguntas?
Um outro garoto levanta a mão e o primeiro-ministro aponta para ele.
– Pode perguntar, jovem. Como é o seu nome?
– Sou o Zequinha e tenho cinco perguntas:
1. Onde estão os 150 mil empregos prometidos?
2. Quem meteu ao bolso o dinheiro do outlet?
3. O senhor tinha conhecimento e tomou parte nas negociatas e nos escândalos de que todos falam?
4. Por que é que a campainha do recreio tocou meia hora mais cedo?
5. Onde está o Manelinho?


do Delito de opinião

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

MARCELO R. SOUSA E O GAROTO

O famoso comentador da TV, Marcelo Rebelo de Sousa, seguia a bordo de um avião, de Lisboa para o Porto.

O lugar a seu lado estava ocupado por um garoto de uns 10 anos, natural de Amarante, de óculos, com ar sério e compenetrado.

Assim que o avião descolou, o garoto abriu um livro, mas Marcelo Rebelo de Sousa puxou conversa.

- Ouvi dizer que o voo parece mais curto se conversarmos com o passageiro do lado. Gostarias de conversar comigo?

O garoto fechou calmamente o livro e respondeu:

- Talvez seja interessante. Qual o tema que gostaria de discutir?

- Ah, que tal política? Achas que devemos reeleger Sócrates ou dar uma oportunidade à Manuela?

O garoto suspirou e replicou:

- Poderá ser um bom tema, mas, antes, gostaria de lhe colocar uma questão.

- Então manda! - encorajou o professor Marcelo.

- Os cavalos, as vacas e os cabritos comem a mesma coisa, certo? Pasto, ervas, rações. Concorda?

- Sim. - disse o professor.

- No entanto, os excrementos dos cabritos são umas bolinhas, as vacas largam placas de bosta e, os cavalos, umas bolas bem grandes... Qual é a razão para isto?

Marcelo Rebelo de Sousa pensou por alguns instantes, mas acabou por confessar que não sabia a resposta...

E o garoto concluiu:

- Então como é que o senhor se sente qualificado para discutir quem deve governar Portugal se não entende de "merda" nenhuma?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O OUTRO POLVO

Visto que hoje é dia de polvo na praça, deixem-me falar de outro tipo desta espécie tentacular: o polvo jornalístico. Promovido pelos pseudo defensores/mártires da liberdade de informação/expressão, este é o polvo que resolveu o problema “Santana Lopes”, que está a resolver o problema “José Sócrates” e que resolverá o próximo problema, seja de que partido for. É que, ao contrário do que muitos pensam, isto não é uma questão de partidos ou carácteres. Este polvo não quer saber disso. Apenas está interessado em instituir uma nova ideia de Estado de Direito assente na seguinte trave mestra: todos devemos ser responsabilizados pelos actos que praticamos, excepto eles próprios. Porque quem os tenta responsabilizar está a promover a institucionalização da censura.
Vejo várias demonstrações de rejúbilo pelos acontecimentos recentes, nomeadamente no espaço político de que me sinto mais próximo. Mas, não tenhamos dúvidas: o que acontece hoje ao 1.º Ministro, já aconteceu, noutra medida, a Santana Lopes e acontecerá ao próximo. Portanto, quando vejo os protagonistas políticos a irem atrás desta euforia, só me resta esperar pelo que lhes vai acontecer também a eles. Com mais capacidade do que qualquer outro, este polvo resolve de forma implacável todos os problemas que vão surgindo. E o principal problema é a governabilidade. Não interessa a ninguém! A governabilidade não dá capas chocantes, não vende jornais, não promove estrelas/mártires da liberdade de informação…
Enfrentar este polvo jornalístico revela-se também uma impossibilidade. Hoje ficámos a saber que, pelos vistos, já nem os Tribunais podem ambicionar executar as suas decisões perante esta rede tentacular.
Resumindo: é este polvo que, em parceria com uma face oculta do meio judicial português, nos passou a dizer o que está ou não provado, quem é culpado/inocente, quem pode ou não governar, o que é o interesse público, enfim, a diferença entre o bem e o mal. Quando assim é, o voto passa a ter uma importância muito relativa…
publicado por Francisco Proença de Carvalho no 31 da armada

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Como chamar a policia (versão brasileira, a portuguesa não é diferente)

Eu tenho o sono muito leve, e numa noite destas notei que havia alguém a andar sorrateiramente no quintal da casa.
Levantei-me silenciosamente e pus-me a ouvir os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta a passar pela janela do quarto de banho.
Como a minha casa é muito segura, com grades nas janelas e trancas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão andar ali, tranquilamente.
Liguei para a polícia, informei-a da situação e do meu endereço. Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.

Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma:

-Eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Já não precisam de ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro de espingarda, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago tremendo no ladrão!

Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e o grupo dos direitos humanos, que não perderiam isto por nada neste mundo.

Prenderam o ladrão em flagrante, que ficou a olhar tudo com cara de assombrado.
Talvez ele estivesse a pensar que aquela era a casa do Comandante da Polícia.

No meio do tumulto, um tenente aproximou-se de mim e disse:
-Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão!
Eu respondi:
- Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível.

Publicado por JoaoTilly

TERRAS DA BEIRA



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ORDEM NA REPUBLICA

Os republicanos começaram animadamente os seus festejos e eu respeito-os por isso, acho natural que cada um festeje livremente aquilo que lhe aprouver. Não partilho do entusiasmo deles mas respeito-os, é o sistema que preferem, que defendem, que querem, que têm, que lhes faça bom proveito. E admiro pessoal, profissional e politicamente inúmeros republicanos, a começar pelo Presidente da Comissão para as comemorações.

Mas confesso sentir alguma curiosidade em saber de que manual de História Técnica foi o Primeiro-Ministro buscar a inspiração para o discurso hoje proferido, no qual equiparava o momento da implantação da República à democracia, prosperidade, modernidade e liberdade. Alguém o enganou ou andou a gozar com ele, pois no caso português isso não tem a menor correspondência com a realidade. De resto, em parte alguma do mundo terá.

Vamos por partes: o regime republicano português teve a sua génese na liberdade e democracia do regime Monárquico, que foram utilizadas para perpetrar um duplo crime de homicídio cobarde e brutal, o que não abona nada em favor dos republicanos. Até porque, de seguida, e uma vez agarradas as rédeas do poder, o regime republicano perseguiu selvaticamente todos aqueles que timidamente se lhe opunham, ceifando quem lhe passasse pela frente, roubando direitos há muito conseguidos, atropelando tudo e todos e formando o regime à sua medida. Em qualquer momento da Monarquia foram os republicanos da 1ª República melhor tratados, de forma mais digna, livre e democrática do que passaram eles a tratar os outros a partir do momento em que lhes foi passado para a mão o bastão. Ou o roubaram. O povo português tem uma expressão elucidativa, sobre este tipo de coisas.

Depois, como finalmente começa a ser público, a 1ª República foi menos moderna, menos próspera, menos democrata e menos livre do que o regime anterior e que pretendia substituir. Mais: foi a bagunça da 1ª República que deu azo ao Estado Novo, período que constituiu, por muito que espante a muitos, uma época mais moderna, mais próspera e, pasme-se, mais democrática e livre do que a 1ª República. Em todos os campos. É espantoso e custa a crer mas é assim mesmo.

Ao Estado Novo seguiram-se dois aninhos brutais de PREC comunista. Nunca como até aí as liberdades foram tão reduzidas, a opressão tão aumentada, a democracia tão atabalhoadamente tratada. Quanto à modernidade e prosperidade desses anos, nem vale a pena falar. Só em meados da década de oitenta se começaram a combater seriamente os vícios desse par de anos, vícios esses que ainda hoje perduram em muitas situações.

Hoje, neste último período da República que vivemos, falar de modernidade, prosperidade, verdadeira democracia e liberdade pode ser considerado uma anedota. Ainda por cima de mau gosto. A modernidade e a prosperidade foram-nos emprestadas, não conquistadas, e é preciso pagá-las quando este deplorável Estado tem as suas contas num estado deplorável. Verdadeira democracia e real liberdade são coisas que fazem tristemente sorrir Fernando Charrua e muitos outros. Até Alegre, um republicano indiscutível.

Claro que temos hoje coisas fabulosas, como os serviços administrativos de certas Universidades a funcionar aos domingos e outras funcionalidades que tais, como licenciamentos rapidíssimos no Ministério do Ambiente, primos por todo o lado, toda a gente tem aprovação nas escolas, mas temos também um Primeiro-Ministro fraco em História, que julga que a República necessariamente se encontra ligada à democracia, prosperidade, modernidade e liberdade (deve estar a pensar na Venezuela, ou na antiga URSS) e que isso é impossível num regime Monárquico (onde todas essas coisas se iniciaram).

Eu aceito que as pessoas sejam republicanas, admito até que anualmente celebrem os cincos de Outubros, esquecendo-se do Tratado de Zamora e dos 700 anos da História de Portugal anteriores à República, percebo ainda que se alegrem e festejem esse regime.
Só não percebo por que razão os republicanos festejam ruidosamente este concreto centenário da República. Estes cem anos merecem-no?
posted by VLX do Mar Salgado

PALAVRAS INTEMPORAIS

Incrível! No momento grave em que a Nação
Dorme (ou finge dormir!) à beira dum vulcão,
Nesta hora tremenda, hora talvez fatal,
Há quem graceje como em pleno carnaval!
E assim vamos alegremente, que loucura!
Cavando a todo o instante a própria sepultura...
No dia d'àmanhã ninguêm pensa, ninguêm!
Os resultados vê-los hão... caminham bem...
Divertem-se com fogo... Olhem que o fogo arde...
E extingui-lo depois (creiam-me) será tarde...
Já não é tempo... As lavaredas da fogueira
Abrasarão connosco a sociedade inteira!
A mim o que me indigna e ruborisa as faces
É ver o exemplo mau partir das altas classes,
Sem se lembrarem (doida e miserável gente!)
Que as vítimas seremos nós... infelizmente!

Guerra Junqueiro, Pátria