domingo, 17 de fevereiro de 2013

D. Sebastião


Um conjunto de gente muito séria continua produzindo opinião nos órgãos de comunicação social com conversa barata ignorando ainda e sempre esse dado incontornável: não há, nem haverá tão cedo, dinheiro para a vida do passado. No momento em que o défice ultrapassou os 10% e a dívida pulou os 100% de toda a riqueza produzida ao longo de todo um ano em Portugal essa vida acabou. Mas já nem pergunto se é preciso um desenho, porque nem com desenho esta gente vai lá. O que é preciso é continuar a ocupar espaço nos jornais e televisões com a politiquice diária inconsciente que tem alimentado a nação de há muitos anos a esta parte, sempre na ténue esperança de que se dê o regresso do político corta-fitas. Ele, o político corta-fitas, é o D. Sebastião dos nossos tempos. E com o seu desaparecimento há muito boa gente em estado de choque.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Os encontros da Internacional Socialista



"A Câmara de Cascais, por acaso PSD, ofereceu um jantar de 13 mil euros aos 250 participantes de um encontro da Internacional Socialista (IS), por acaso socialistas. Este gesto de generosidade e ecumenismo foi mal visto pela típica mesquinhez pátria e deu origem às indignações do costume, aflitíssimas com um repasto de 52 euros por estômago e convencidas de que a esquerda, só porque é esquerda, se alimenta a bifanas.

O curioso é que quase ninguém pareceu indignar-se com o encontro da IS propriamente dito. Arriscando acusações de parcialidade, acho esquisito que os principais obreiros da crise europeia passeiem nos países onde a crise é mais flagrante a fim de debatê-la e, não se riam, resolvê-la. Não seria muito diferente se um bando de pirómanos regressasse ao local do incêndio para discutir protecção florestal. Aliás, salvo a provável comparência da polícia no segundo caso e a incompreensível ausência da política no primeiro caso, não é nada diferente.

Mas o cúmulo do descaramento passou pela destacada presença do presidente da IS, Georgios Papandreou de sua graça. O seu papel na desgraça grega, que contemplou e, a bem da "agenda" pessoal, agravou enquanto primeiro-ministro chegaria, num mundo justo, para manter a criatura na prisão durante longos e pedagógicos anos. No mundo que temos, a criatura ciranda por aí a oferecer palpites e alertas. Os nossos media, que deram ao sr. Papandreou a antena que não dariam à comparativamente credível Leopoldina dos hipermercados, divulgaram-lhe as declarações na abertura do convívio cascalense: "A crise não acabou. Ainda hoje, se a Europa não tomar mais medidas, os sacrifícios dos portugueses, gregos, espanhóis e italianos poderão perder-se e mais nos será exigido."

Nem uma admissão de culpas, nem um pio sobre responsabilidade: o importante, note-se, é a Europa "tomar medidas". Não importa que os socialistas tomem juízo ou vergonha na cara. No máximo, tomaram café após o jantar pago pelo contribuinte, uma despesa minúscula face à factura que essa gente já nos legou."

Alberto Gonçalves no DN