quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O que um FMI tem de aturar.


Vamos lá ver uma coisa. Não fica bem estarmos a tratar o FMI como se fosse um bando de malucos à procura de destruir Portugal. Sobretudo isso não fica bem a um país que está completamente falido, por culpa própria. Não foi o FMI que levou Portugal à falência. Não foi o FMI que governou Portugal nos últimos anos, que escolheu os investimentos, que aproveitou os recursos. Não foi o FMI. Foi Portugal.

Este último relatório, que até foi pedido pelo governo português, é a visão da instituição sobre o país e sobre o seu futuro financeiro no curto prazo. E em vez de nos levar a discutir o que lá se diz – que não temos de subscrever ou concordar liminarmente - leva-nos estupidamente a discutir o “como se diz” e “porque se diz”.

O FMI comete erros? Pode cometer. O FMI engana-se nas contas? Pode enganar-se. O FMI já se enganou nas contas e já cometeu erros? Já, já se enganou nas contas e já cometeu erros. Mas poderá dar isso azo a que uma classe política incrivelmente medíocre, que só faz asneiras, que só debita demagogia, os trate com desdém? De maneira nenhuma.

Que o povo ande por aí na rua a dizer que o FMI é o diabo ou que se escreva nas paredes “FMI fora daqui”, tudo bem. Em bom rigor, nenhum país quer o FMI por perto. Mas o poder político português tem o dever de responder perante um relatório destes. É falso? Óptimo, vamos lá então saber onde falhou o FMI. Não é falso? Óptimo, vamos lá então ver o que recomendam eles e decidir se o fazemos ou não.

É que esta história do Estado Social é muito bonita, mas... Por exemplo, eu posso prometer educação gratuita para todos, livros incluídos, saúde gratuita para todos, dentes incluídos, apoios sociais aos desempregados e até aos empregados, subsídios para tudo e para mais alguma coisa. Eu prometer, posso. Até posso dizer que acabo com todos os impostos e que o país se financia através da venda de azeite biológico. Mas conseguirei cumprir? Julgo que não.

Ora, esses que falam por aí do Estado Social como se fosse uma garantia – por exemplo, como a liberdade de expressão, que basta o Estado dizer que existe, não precisa de 10 mil milhões de euros nem de 10 mil milhões de polícias para garantir o direito à liberdade de expressão – têm de se explicar. Porque um Estado Social de Luxo todos queremos. Não são só eles. O que se pergunta é: Como?

A verdade é esta: Se esses que falam por aí do Estado Social como se fosse o seu menino nos garantirem que conseguem manter o que existe, repor os cortes e até torná-lo ainda mais social, sem esgotar todos os recursos do país, vota já tudo neles e até duas vezes se isso não tornar o voto nulo.

Mas esses que falam por aí do Estado Social como se fosse o seu menino têm de apresentar um relatório pelo menos ao nível deste do FMI, para provar ou não o que dizem. Sim, porque não se admite que quem acusa o FMI de falta de rigor e de competência, depois ande por aí a prometer coisas por alto. E se alguém tem andado a enganar os portugueses à grande e à francesa, não tem sido, seguramente, o FMI. O FMI, quer se queira quer não, fomos nós - os nossos governantes - que o chamámos. O FMI não está a invadir ninguém nem deverá querer saber de Portugal para outra coisa que não seja jogar golfe e apanhar sol.

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