segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A UNESCO fez o favor de nos roubar

A UNESCO declarou que o Fado, esse luso contra-senso de aceitarmos que o-que-tem-de-ser-tem-muita-força e a cantar, não é afinal património de uma maneira de sentir e ser que conferia aos portugueses um traço de singularidade psicológica e artística – é património da Humanidade.

Foi um confisco, mais uma maneira de os grandes poderes internacionais dizerem a Portugal: “o que é teu é nosso”. Assim como que uma segunda rapinagem do nosso património, depois da infâmia da troika. Desta vez rapinagem pior – porque para enriquecer o património do que designa por “Humanidade” a UNESCO esbulhou-nos mais que património, rapinou-nos a alma. Bem sei que fomos ‘nós’ que lhe pedimos que nos rapinasse, mas também a troika de breve mas má memória cá veio a ‘nosso’ pedido – e todos bem sabemos o que é que a vontade e os interesses dos portugueses têm a ver com isso.

A declaração de ‘reconhecimento’ está feita – e pronto. Há-de certamente vir agora o Governo saudar o feito, chamar a si as habituais glórias que o seu mexer-de-cordelinhos mais uma vez conseguiu e, lembrando que nunca deixou nem deixará de falar a verdade aos portugueses, ensinar-nos a ver em tão prodigiosa conquista um claro aviso do “princípio do fim da crise”.

Mas não é o horizonte do final da crise, não senhores. O modo como os mansos portugueses permitiram, toleram, aceitam e engolem, sempre veneradores e obrigados, leva mais a crer que a crise faz parte do nosso fado. E quem conhece a essência da nacional canção sabe que também a crise faz o Fado.

Que me perdoem a "raça" de Marceneiro, o génio de Amália e o talento de Carlos do Carmo. Com a devida vénia pela arte de Malhoa e a voz de Villaret

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